Marciano Menezes da Silva foi o primeiro brasileiro curado da raiva, em 2008. No ano de 2007 ele foi agredido por morcego, não recebeu a profilaxia antirrábica pós-exposição, porém recebeu o Protocolo de Milwalkee modificado ou Protocolo de Recife. UM PACIENTE BRASILEIRO SOBREVIVEU À RAIVA!!!! Mas como está sobrevivendo hoje, de volta ao sertão de Pernambuco? Como é a assistência "pós-raiva" em Floresta-PE? Me pergunto várias vezes "o que é sobreviver à raiva?". Conforme a reportagem de 2016, Marciano disse que seu "maior sonho é voltar a andar". O que é sobreviver?
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http://noticias.ne10.uol.com.br/interior/sertao/noticia/2016/07/27/oito-anos-depois-unico-brasileiro-curado-da-raiva-humana-vive-em-condicoes-precarias-628353.php
Voltando a Barcelos-AM, não custa lembrar que foram necessárias DUAS MORTES de irmãos para que a população sob risco finalmente tivesse acesso à profilaxia. Os óbitos foram registrados em Manaus em 02 e 16 de novembro e só no dia 05 de dezembro as doses de vacina e soro chegaram a Barcelos! Pensando que o período de incubação médio da raiva em humanos é de aproximadamente 45 dias, é possível que esta família tenha sido agredida pelos morcegos e infectada com o vírus da raiva ainda em AGOSTO ou SETEMBRO. E a profilaxia para a comunidade chegou em DEZEMBRO. Foram necessárias duas mortes na mesma família para que os órgãos de saúde se mobilizassem de verdade, com praticamente quatro meses de atraso. É desanimador tamanho descaso!
A região amazônica é rica em biodiversidade porém também está sob a ameaça constante de desequilíbrios ambientais. Um estudo de 1980 já falava da importância epidemiológica de morcegos hematófagos na região, já alertando que "concernente à prevenção da raiva humana é a criação acidental de micro-habitats para morcegos hematófagos na forma de áreas preservadas com abrigos adequados na colonização de regiões florestais onde a raiva silvestre é prevalente", e enfatizando as características ecológicas que podem favorecer a permanência destes nas áreas habitadas por humanos. A Reserva Extrativista da Comunidade Tapira do Rio Unini em Barcelos-AM talvez nem seja tão preservada assim e, para que os hematófagos optem por atacar pessoas, é bem possível que haja falta de alimento melhor para os morcegos, ou seja, pela falta de outras espécies animais os morcegos passaram a espoliar pessoas. Imagine a falta de estrutura de um local desses? Onde nem a saúde chegou oportunamente?!
Também não custa lembrar que ainda em 2017 as cidades de Salvador-BA e Recife-PE foram focos de raiva em morcegos hematófagos (que nem deveriam habitar áreas urbanas!! Veja o desequilíbrio ambiental!) e em Recife ocorreu um óbito humano devido à variante do vírus da raiva que circula em morcegos hematófagos (variante 3), porém transmitida por um gato. O gato havia entrado em contato com o morcego, foi infectado com o vírus da raiva e acabou transmitindo a doença para a pessoa através de mordedura. A pessoa não buscou atendimento oportunamente... Óbito.
Mais lembranças de 2017, tivemos a modificação no protocolo da vacina antirrábica pós-exposição, que era de cinco doses e passou a ser de quatro. É óbvio que a justificativa são os "estudos recentes comprovando que quatro doses já são suficientemente protetoras", não precisa mais da quinta dose. Nada disso tem a ver com o desabastecimento de vacinas e a crise na produção de imunobiológicos, incluindo soro antiofídico, soro antirrábico, vacina de febre amarela, vacina antirrábica... Não, nada tem a ver com isso! Até mesmo o novo protocolo da vacina de febre amarela, que era uma dose a cada 10 anos se tornou esta mesma dose para a vida toda! E em 2018 podemos fazer apenas 1/4 da dose que protegerá por 8 anos! Fantástico! Mas são os estudos recentes que indicam isso. Estamos seguros e podemos ficar tranquilos com os novos protocolos de imunização! E pensar que o Brasil já foi referência em imunização! Que saudade do PNI!
Lembrando também que 2017 foi o ano da "revolta" da sífilis, não só pela falta de cuidados e uso de preservativos pelas pessoas mas também pela falta de penicilina para tratar os pacientes! E o brasileiro segue não se protegendo, não se prevenindo e NÃO SE TRATANDO. Ou porque não sabe, ou porque NÃO TEM!
E assim segue nosso sistema nada preventivo, totalmente assistencial, com o perfil de "apagar incêndios" da saúde. São tantos os exemplos, como a raiva canina em Corumbá-MS, a febre amarela no Sudeste, a entrada do Zika e a explosão do Chikungunya... e tantos outros. Infelizmente isso deixa claro que nossos gestores estão mais preocupados com a "política" do que com o cidadão ou a gestão da saúde.
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