quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sobre a greve nas IFES

Não é do escopo desde blog os partidarismos ou políticas diversas, mas este espaço foi criado para colaborar na educação e me sinto no direito de emitir minha opinião sobre o que se passa no cenário do Ensino Superior, em especial as Instituições Federais.

Quando pensei em fazer faculdade, decidi que queria ser veterinária. Quando conheci Londrina, decidi que faria veterinária na UEL. Nunca sequer cogitei a possibilidade de estudar em uma Universidade Federal. Quando entrei na graduação, decidi que queria a carreira acadêmica. Ao terminar meu mestrado, imediatamente fui para a academia e nunca mais saí. Ralei e passei num concurso público e hoje sou professora de uma Federal, sou muito feliz com o que faço mas quero mais.

Sim, sou a favor de greve, de discussões, de reivindicações e, sobretudo, de dignidade em nosso trabalho. Sou a favor da democracia e, se minha opinião for minoria, acato com toda tranquilidade. Não sou a favor de baderna, de partidarismos, de aproveitar o momento para "descansar". O que está acontecendo não é uma "semana do saco cheio". É um evento imenso, de proporções nacionais, em prol da valorização desse profissional que doa seu tempo, conhecimento e dedicação ao SABER e renuncia, às vezes a si mesmo, em prol da tríade indissociável ensino - pesquisa - extensão. No passado era status ser professor universitário, era motivo de orgulho na família... Hoje ser professor universitário é para quem gosta do que faz. Que profissional de nível superior se forma pensando em ganhar esse salário? E se sujeitar a trabalhar nessas condições? Cadê o status disso? Se eu quisesse hoje ter um filho, teria que me livrar dos meus cachorros e esquecer a hipótese de comprar uma casa. Se eu quisesse comprar uma casa hoje, teria que esquecer a hipótese de ter um filho ou de viajar nas minhas férias. Só de pensar que ao me aposentar (daqui uns 27 anos) meu salário ainda será menor do que já é hoje... Francamente, qualquer amor acaba quando esbarra na crise financeira. 

Ninguém fica milionário "apenas" professando. Não quero ser milionária, mas quero ter algum valor. O valor acadêmico é totalmente efêmero e a meritocracia é uma lenda, mas acredito profundamente que ser professor vai além da vaidade acadêmica. Ser professor é abraçar a causa dessas vidas que passam por nossas mãos tão rapidamente e é ser a referência para tantas dúvidas além da disciplina ministrada. Ser professor é um casamento: saúde, doença, alegria, tristeza, riqueza e pobreza, temos que estar lá. E estamos. Impreterivelmente e indubitavelmente. Precisamos de dignidade para continuarmos! Se a linha segue, daqui a alguns anos não haverá mais quem queira "ser professor quando crescer". Não quero ser chacota da sociedade e não quero ser obrigada a deixar de fazer a coisa que mais gosto de fazer na vida. Não quero tornar esses doze anos de escola, cinco anos de graduação, mais dois anos de mestrado, mais seis anos de docência no ensino superior e, agora, mais este ano de doutorado apenas estatísticas de quanto tempo passei estudando. Quero mais. Quero valer de verdade, para os alunos, para a sociedade e para meus gestores. Quero dignidade em meu trabalho, quero respeito e, acima de tudo, quero aquele "status", que significava o quão importante era este trabalho.

Ainda hoje escrevi para um acadêmico em resposta a esta reportagem do Correio do Estado - e depois coloquei em meu próprio perfil no Facebook - a seguinte sentença: "Alunos: vocês estão batalhando para entrar no mercado de trabalho. Nós, professores 'grevistas e subversivos', estamos batalhando para nos manter neste mercado - o qual amamos muito. Só por amor a esta carreira que o Brasil inteiro está parando. Não podemos ser omissos e ficar de fora do maior movimento já visto em Universidades Federais no Brasil." A UFMS está viva SIM!

52 Universidades Federais mobilizadas, e contando.
Professores grevistas não querem prejudicar alunos. Professores grevistas também passarão o Natal na Universidade, se isso for previsto no calendário acadêmico pós-greve. Se os professores subversivos estão 'prejudicando' os alunos agora é para que as Universidades Federais não sejam mais vistas como sucata, depósito de lixo ou acervo de desânimo e desinteresse. Ninguém é obrigado a concordar com nada, mas entendam que greve prejudica, sim, a todos. Porém é a ferramenta legal que temos para pressionar e reivindicar por algo maior. Estamos todos lutando por ressucitar a educação superior federal no Brasil. Definitivamente não estamos lutando pelas estatísticas do MEC, apensa queremos uma carreira digna e decente.

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